sexta-feira, 11 de junho de 2010

REGINALDO CARLOTA FOI A RIO CLARO ENCONTRAR DELEGADA QUE CAÇOU SERIAL KILLER

 
Na distante tarde de terça-feira, 29 de maio de 1984, a garotinha Silvia Aparecida do Espírito Santo, de apenas 9 anos, saiu de sua casa, próxima do Mercadão Municipal, em Itu, para ir à escola Cesário Mota, onde estudava. Nunca mais voltou. Uma semana depois, seu corpo foi encontrado em um matagal da Estrada Jurumirim. A menina havia sido estuprada, estrangulada e espancada até a morte com socos na cabeça, que desfiguraram todo seu rosto.
Quase quatro meses depois, no dia 15 de setembro, a menina Isabel Bezerra da Silva, de 10 anos, saiu de sua casa no São Luis, para vender os pães caseiros que a mãe fazia. Era um sábado à tarde. Isabel não voltou mais.
Seu corpo foi encontrado na terça-feira, em um matagal da Fazenda Campo Netto, atrás do São Luiz. Estuprada, espancada e asfixiada até a morte com a própria toalha que cobria os pães da cestinha que carregava.
Apesar das suspeitas (infundadas), rumores e boatos aos montes, a polícia local nunca resolveu nenhum dos dois casos, que acabaram sendo arquivados sem solução, e hoje, já prescreveram, ou seja, pela lei, a Polícia Civil não tem mais obrigação alguma de investigar os casos.
Na mesma época em que as duas meninas foram brutalizadas em Itu, assassinatos idênticos vitimando crianças com o mesmo perfil, estavam ocorrendo em várias cidades do interior de São Paulo. Todas as vitimas, com no máximo 10 anos de idade, eram estupradas, espancadas, estranguladas e tinham os corpos abandonados sempre em uma mata ou construção deserta.
Cidades como Franca, Monte Alto, Potirendaba, Rio Claro, Matão, Araras, Araraquara, São Carlos, Pirassununga entre várias outras, foram abaladas por assassinatos horrendos de crianças, todos idênticos aos casos de Itu.
Os crimes só cessaram em janeiro de 2000, quando a delegada Sueli Isler, na época, titular do 1° Distrito Policial de Rio Claro, comandou uma verdadeira caçada ao monstruoso assassino em série, que já havia feito oficialmente seis vítimas naquela cidade.


“MAIS DE 100 ASSASSINATOS EM NOME DE SATÔ
O maníaco em questão, era um homem de aparência assustadora, maltrapilho, gordo, olhos vermelhos, cabelos desgrenhados, unhas sujas, e bafo de álcool, já tinha várias passagens em uma clínica psiquiatra de Araras, sua cidade Natal. Vivia perambulando pelo interior paulista há 30 anos, dormindo pelos albergues locais, inclusive em Itu, onde tinha registro no Albergue Noturno. Sobrevivia da caridade das pessoas que tinham dó dele e de pequenos bicos como “chapa” ou engraxador de portas de bares. E entre um serviço e outro, observava as crianças das imediações brincando, fazia amizades, oferecia balinhas e doces e depois as matava em um local deserto.
Com a prisão de Orpinelli, que no início negou os crimes, mas depois começou a falar e foi revelando detalhes dos assassinatos, inclusive onde abandonava os corpos, vários casos foram esclarecidos em diversas cidades.
O assassino confessou friamente várias vezes que já matou mais de 100 crianças e explicou seu método: “eu fazia amizade com elas (as crianças), dava balas, doces e depois as convidava para dar uma volta na minha bicicleta. Aí, eu as levava até um matagal e Satã me dominava. Era sempre depois de tomar uns conhaques. Satã queria sangue, muito sangue. Então, se a criança começasse a chorar e gritar eu matava no soco, mas se ficasse boazinha, eu só estrangulava. Eu as violentava com os dedos, sou impotente”, revelou.

DOCUMENTÁRIO
Desde que o maníaco, foi preso, venho acompanhando o desdobramento de todas as investigações e julgamentos envolvendo o criminoso e acabei escrevendo um documentário sobre o caso, um livro reportagem intitulado de O MATADOR DE CRIANÇAS.
Há dois meses estive em Rio Claro, onde fui recebido pessoalmente pela delegada doutora Sueli Isler, com quem já vinha conversando há meses por telefone e e-mail.
Na ocasião, esclareci todas as dúvidas que ainda tinha sobre alguns aspectos do caso Orpinelli e tive acesso a um detalhado dossiê particular da delegada, com dezenas de fotos e informações sobre os crimes.
Com esse material em mãos, consegui concluir o documentário sobre o monstruoso serial killer.

DELEGADA LINHA DE FRENTE
“Em uma das reconstituições que fui fazer com o Orpinelli, perguntei pra ele por que ele matava crianças. Ele respondeu friamente que pra ele, matar crianças era como matar passarinhos. Então perguntei quantos ‘passarinhos’ ele havia matado. Ele respondeu ‘parei de contar no cem, doutora’. Nunca vi tanta frieza”, revela a delegada Sueli.
Aos 56 anos de idade, sendo 32 deles dedicados à polícia, a delegada é uma celebridade. Já foi destaque até em redes de TV dos Estados Unidos e Inglaterra, além de ser notícia em todos os grandes jornais importantes do Brasil, na época em que promoveu a caçada ao Monstro de Rio Claro. Com tudo isso, ela ainda consegue ser uma mulher maravilhosa, muito atenciosa, simples e acessível. Sueli não é do tipo que fica sentada atrás de uma mesa assinado papeis. De arma na cintura, ela sai pras ruas e comanda pessoalmente as investigações, como fez no caso Orpinelli.
Se tivesse mais policiais como ela nesse país, não haveria tantos crimes insolúveis. Sendo mulher, ela fez o que nenhum outro homem fez, capturou um dos maiores assassinos em série do Brasil, por pura persistência e paixão pelo trabalho.
Mas não foi fácil, segundo declarações dela. “Sofri muita discriminação pelo fato de ser mulher e estar à frente de um caso como esse. Teve muito ciúmes dentro da própria polícia e isso acabou atrapalhando bastante o trabalho, mas no fim, conseguimos manter o assassino preso e elucidar os crimes de Rio Claro e de outras cidades”, contou.
Sobre os assassinatos de Itu, Sueli lembrou que foi o próprio Orpinelli quem levantou o assunto quando foi preso e começou a falar que, além dos crimes naquela região, em 1984 havia matado uma menina em Itu, quando ela estava chegando na escola. “Ele contou em detalhes onde abordou a menina Silvia e onde a levou para matá-la, em seguida”, disse Sueli.
Orpinelli nunca foi indiciado pelo assassinato de Silvia e nem investigado pela morte de Isabel. Pelo menos não pela polícia.
O documentário de mais de 150 páginas, narrando os crimes praticados pelo assassino, entrevistas e declarações do próprio criminoso, além de fotos das vítimas, será lançado ainda este ano.

"SENTAR O PREGO" EM POLÍCIA É ASSINAR ATESTADO DE ÓBITO


Pipocar um “coxinha” (nome pejorativo pelo qual a PM é chamada em São Paulo), ou “sentar o prego em um civilzão” (investigador de polícia), é o sonho de consumo de 11 em cada 10 malacos. Malacos de atitude, não dos comédias que chamam guarda de trânsito de “Senhor”, com medo de tomar tapa na cara,m quando rodam com uma ou duas pedrinhas.
Como um policial, por mais bem preparado e armado que seja, no fim das contas é apenas um homem como qualquer outro, nem de longe matar um deles é coisa impossível. Não é. No Rio de Janeiro e São Paulo, matam-se policiais o ano inteiro, tanto é que as vagas de trabalho nessas corporações nunca são preenchidas, já que há “baixas” ( e são baixas de guerra) o tempo todo.
O grande problema, pra quem tem essa pretensão, são as consequências. Consequências fatais na verdade. Pra falar o português bem claro, o cara que mata polícia está ferrado. “Se” for capturado com vida após o crime, o que é muitíssimo improvável, ele realmente entra com moral dentro da cadeia, vira celebridade entre seus pares e ganha respeito. O problema é que mais cedo ou mais tarde ele sai da cana, e ao sair, vai ter sempre um “tira, um gambé, um fardado, um civilzão, ou um coxinha”, aguardando a oportunidade pra meter um balaço na boca dele. Isso se ele “sair” da cadeia. Pode ser que lá dentro mesmo, ele “sofra um acidente”, “adoeça misteriosamente e morra”, “tente uma fuga e acabe fuzilado”, “coma uma comida estragada e vá pro céu mais cedo”, enfim, só Deus mesmo sabe o que pode acontecer com um matador de polícia. Coisa boa que não é. Mas isso na prisão é claro, porque na rua, depois de um ataque a um policial, se o cara morrer na mesma hora, vai ser caçado como um animal, sem piedade, sem clemência. Todas as corporações policiais irão tomar as dores da família do morto e literalmente irão fazer um inferno na vida de muitos criminosos, até achar o culpado. E nessa de fazer um inferno, vai ter um monte de trafica tendo bocas estouradas, vai ter suspeito sendo abordado e preso a toda hora, e até cadáveres de malacos sendo encontrados em matagais ou boiando em rios o tempo todo.
Quem se lembra dos últimos ataques de uma facção criminosa à Polícia paulistana, ocorrido há alguns anos, certamente vai se lembrar também, que nos dias seguintes aos ataques, dezenas de “suspeitos”, de “ex presidiários” e até de detentos que estavam nas ruas de indulto, foram “misteriosamente” assassinados. Dizem que foram mais de 80 mortos. A maior parte com tiros de Pistola Ponta 40 na cabeça. Vai saber quem matou né?
Polícia é uma raça muito unida, mexeu com um mexeu com todos. Fica mal pra corporação um maluco apagar um fardado ou um civil e continuar vivo pra contar história.
Só pra se ter uma ideia, em uma troca de tiros rotineira durante um assalto, o bandido sempre acaba morto. Tem policial que fica filho da p... , se um bandido levantar a mão (armada é claro), ele passa fogo no sujeito, mesmo que o cara queira se render.
Por essas e tantas outras coisas, é que a ideia de zerar um policial, embora seja tentadora para quem quer subir no conceito do crime, é na verdade um atraso de vida. É assinar o próprio atestado de óbito, ou como dizem “caixão e vela preta”.
Que tem policial que comete excessos tem, todo mundo sabe. Mas bandido também comete excessos.
Em última analise, o policial está fazendo a cara dele, que é atrasar o lado do ladrão. E por isso só, mesmo se excedendo algumas vezes, vai ter muito mais respaldo do que um sujeito que está na rua agindo contra o sistema.
Com tudo isso em mente, tem que ficar claro que, quando um cara diz que está pronto pra apagar um polícia, ele também tem que estar pronto pra morrer. Porque é isso que provavelmente vai acontecer quando ele for encontrado. E será encontrado. Pode ser mais cedo, pode ser mais tarde. Mas o final vai ser sempre o mesmo... um tiro de Ponto 40 na cabeça.
Polícia não tem peito de aço. Mas bandido também não.
Será que o risco vale a pena?