sexta-feira, 26 de junho de 2009

POR QUE ESCREVI UM LIVRO SOBRE DROGAS

Nos últimos quatro anos, trabalhando como repórter policial do jornal Folha da Cidade, de Itu, perdi a conta de quantas vezes entrei em espessos matagais, terrenos baldios, construções abandonadas e até em rios, para fotografar jovens e adolescentes mortos, por desacertos no mundo das drogas.
Muitos desses jovens já haviam sido fotografados por mim, quando ainda estavam vivos, durante apreensões de drogas, realizadas pela PM, Polícia Civil, ou Guarda Municipal.
Lembro de casos, em que eu fotografei o jovem em uma semana, para arquivos policiais e ele saiu rindo, dizendo que como era menor “não ia dar nada”. Dias depois, a Polícia me ligava altas horas da madrugada pra ir fotografar um cadáver que haviam encontrado no mato. Quando eu chegava lá, achávamos um documento no bolso da vítima, e adivinhe quem era? Exatamente, o cara que disse que não ia dar nada.
No mundo das drogas, o viciado morre de um jeito ou de outro. Se ele não tiver a infelicidade de morrer vítima de uma overdose, vai acabar sendo executado por traficantes, por não pagar a droga, vai ser morto por policiais durante perseguição e resistência a prisão, ou até mesmo ser assassinado de bobeira na rua, por algum rival ou desafeto. Não tem saída. Só existe dois futuros para o viciado: a morte prematura ou a cadeia.
Meses atrás, pensando em tudo isso, enquanto organizava meus arquivos com fichas e fotos dos mortos que já fotografei, notei que além do fato de todos serem usuários de drogas, havia um outro padrão em comum entre eles: todos eram perdedores.
Muito antes de perderem a vida de forma trágica e violenta, já haviam perdido a família, os amigos, o trabalho, a dignidade, o amor próprio, e até mesmo a liberdade de poder ir e vir sem serem abordados na rua por uma viatura de polícia.
Foi naquele momento que tive a inspiração para escrever o livro “O Perdedor”.
O livro conta a história de um adolescente comum, que ao tornar-se um viciado em drogas, passa a levar uma vida marginal, violenta e trágica, em um mundo desgarrado, onde não existem amigos e os inimigos estão por toda parte.
Expulso de casa, abandonado pelos amigos e perseguido por traficantes, o adolescente vai descobrindo da pior maneira que a viagem ao mundo das drogas só tem passagem de ida.
Escrevi o livro com o objetivo de conscientizar e prevenir os jovens e adolescentes das armadilhas do mundo das drogas.
Diferente do que muitos possam imaginar, meu livro não é uma cartilha didática do tipo “não use drogas”. Na verdade, é um conto policial, violento e trágico, repleto de dramas urbanos, exatamente como no mundo real.
Eu acredito que não adianta simplesmente dizer algo como ‘não use drogas’, e esperar sentado que isso surta efeito na mente dos jovens, que gostam de fazer justamente aquilo que é proibido. Penso que se uma campanha antidrogas quiser ter algum impacto na mente do usuário em potencial, ou do próprio viciado, ela tem que ser mais radical do que as convencionais e deixar bem claro que drogas são para perdedores, pois ela causa todo tipo de perda. E, é exatamente disso que meu livro trata.
Abaixo disponibilizo a capa e as quatro páginas iniciais do meu livro, que é todo ilustrado pelo desenhista Diego Veloso, um dos melhores artistas ituano.
A partir da segunda quinzena de Julho o livro já estará a venda na principais bancas e livrarias das cidades da região, como Itu, Salto, Sorocaba, Campinas, Jundiaí e outras. Também pretendo distribuir o livro até o final de Julho em livrarias estratégicas de São Paulo.
Além desse esquema de distribuição, vou iniciar um ciclo de palestras nas escolas da região, onde estarei divulgando o livro e realizando um debate aberto com os alunos, sobre o mundo das drogas.
Para entrar em contato comigo, pra agendar palestras, entrevistas, ou simplesmente bater um papo, é só mandar um e-mail. O endereço é:
carlotacriminal@gmail.com.


CAPA DO LIVRO O PERDEDOR


O PERDEDOR - PÁGINA 1

Meu nome?
Bem, meu nome não faz a menor diferença.
Eu poderia ser qualquer um, ter qualquer idade, ser de qualquer sexo, cor e religião, que, se tivesse tomado as decisões erradas que tomei, meu destino seria o mesmo.
Sou um perdedor, um fracassado.
Arruinei minha vida e a das pessoas que me amavam.
Não tenho mais casa, não tenho mais família, não tenho amigos, não tenho ninguém.
Ando por aí, sujo, esfarrapado, faminto...

O PERDEDOR - PÁGINA 2

Hoje durmo no banco gelado da praça, coberto por jornais, amanhã durmo no piso da rodoviária ou no chão de uma construção, e assim vou levando a vida, sem a menor dignidade.
Durante o dia, peço esmolas nas ruas como um mendigo, me humilho de todas as maneiras pra juntar algumas moedas. Quando consigo, ignoro a fome que me consome e saio atrás de outra “parada”, de outra “porção”, de outra “dose”.
Sou um escravo do vício, uma vergonha para a família que eu tive e para a pessoa que eu fui.
Agora, tarde da noite, encosto a cabeça na janela e fico olhando as luzes da cidade.
Vou assistindo minha vida passando pela janela como se fosse um filme de cinema.
Vejo tudo, cada detalhe, tudo que já tive, tudo que mais amei, e tudo que perdi.

O PERDEDOR - PÁGINA 3

Tenho a impressão de que todo ano desperdiçam uma fortuna em campanhas publicitárias contra as drogas.
Penso dessa forma, porque vejo um monte de comerciais de TV e anúncios caríssimos em jornais e revistas, onde estampam a frase “NÃO USE DROGAS”.
Ora, nunca conheci uma única pessoa nessa vida que deixou de usar drogas por ter visto uma propaganda dessas. Pelo contrário, o fato de saber que o “negócio é proibido”, estimula ainda mais um monte de gente, principalmente jovens inexperientes como eu fui.

O PERDEDOR - PÁGINA 4

Jovem quer ser radical, quer ser contra o sistema, quer ser contra o convencional, quer fazer tudo aquilo que não pode, pelo simples fato de querer ser diferente.
Me lembro bem, que entrei nessa viagem sem volta por admirar os bandidinhos do meu bairro. Quanta burrice!
Ao contrário dos garotos “normais”, eles não obedeciam ninguém, não respeitavam as regras, se sentiam acima dos outros.

Esses moleques eram respeitados pelos garotos normais como eu, que tinham medo deles. Com “normal”, eu quero dizer os garotos de bem, que não tinham envolvimento com o crime e o mundo das drogas.
Quando eu ouvia algum deles falando que havia cheirado, fumado ou tomando uma dose, eu achava o máximo, ficava pensando que, se fizesse o mesmo, seria respeitado como eles. Só hoje sei que ninguém respeita um drogado, um viciado.